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Pérsia, a glória do Irã


Entre o mar Cáspio e o Golfo Pérsico, desenvolveu-se uma das mais importantes civilizações do mundo antigo, a dos persas. Considerado o maior império da Terra, uma verdadeira superpotência que ocupou uma extensa área, três vezes maior do que o Irã atual.
Área essa que correspondia aos territórios não só desse país, mas também da Turquia, da região do Cáucaso, da Síria, do Líbano, Israel, Jordânia, Iraque, do Egito, do Paquistão, Afeganistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão.
As Origens
Os ancestrais dos persas, tribos indo-europeias (arianos), migraram a partir da Ásia Central por volta de 2000 a.C. Possuíam o idioma semelhante e já tinham domesticado o cavalo, o que lhes permitiram uma superioridade militar. Com isso se espalharam em várias direções, entre elas o planalto iraniano.

Apesar da pobreza do solo, a região já era ocupada desde 5000 a.C pelos elamitas (artefatos encontrados indicam a presença humana desde épocas mais remotas). Algumas tribos se fixaram a noroeste, os medos, que logo formaram um reino. Mas ao sul se estabeleceram os parsis (persas), constituindo tribos autônomas. A vida se seguiu tranquila por vários séculos, até quando a região foi dominada pelos assírios, que destruíram a capital do Elam, Susa. No entanto em 615 a.C., os medos, que vivam nos montes Zagros, aliaram-se aos babilônios e destruíram Nínive, capital da Assíria. O império vencido foi dividido entre os dois aliados. Ao longo dos próximos anos existiram disputas entre as tribos, seguiu-se um período de paz com o equilíbrio do poder até ser desestabilizado novamente pelo líder dos persas.

Medos e persas possuíam laços fortes de origem, ambos povos arianos, e se ligaram por um casamento político, de onde nasceu kurush – cujo nome entraria para a história sob sua forma grega, Ciro. Por volta de 550 a.C.,Ciro unificou as tribos persas e subjugou os medos, tornando-se rei dos dois povos. Deu-se início a um vasto império: a Dinastia Aquemênida (550 a 330 a.C.).
Ciro e os Hebreus (iluminura de Jean Fouquet)

Ciro, além de gênio militar se destacou por sua capacidade de despertar admiração e respeito até mesmo dos povos que eram conquistados. Dentro dos princípios do Zoroastrismo defendia o direito da minorias étnicas e religiosas. Por isso ao conquistar a Babilônia (539 a.C), ordenou que suas tropas respeitassem os templos e costumes religiosos da cidade, além de permitir o retorno dos judeus a Jerusalém, pondo fim ao cativeiro babilônico.

Com a morte de Ciro, Cambises, o filho, assume o poder. Ao contrário de seu pai, revela-se um governante tirânico, porém com gana expansionista conseguiu conquistar o Egito. Após sua morte, a convulsão política tomou conta da Pérsia. Desse caos surge a figura de Dario, um primo distante do último governante.

Restabelecida a ordem, Dario consolidou e ampliou seu poder que ia do Mediterrâneo até o Afeganistão. Apesar das limitações inerentes à época, conseguiu manter o império coeso e procurou modernizá-lo. Foi um hábil militar, mas seus feitos notáveis foram no campo político e na administração. Dividiu seus domínios em províncias (satrapias), com governadores por ele nomeado que se encarregavam da cobrança e do pagamento de impostos ao imperador. Por sua vez, esses sátrapas eram fiscalizados por oficiais que eram os “olhos e ouvidos do rei”. Construiu estradas que ligavam as principais cidades do império (Susa, Pasárgada, Persépolis e Ecbatana), criou um eficiente sistema de correios para maior controle das províncias e implantou uma unidade monetária, o dárico.


O domínio do imperador era garantido pelo numeroso exército, porém isso não foi suficiente para impedir o fracasso dos ataques feitos por Dario e seu filho, Xerxes, à Grécia nas Guerras que duraram dez anos.
Leónidas na Batalha das Termópilas, por Jacques-Louis David

Disputas internas levaram ao enfraquecimento do império que não sobreviveu à investida do jovem rei macedônico, Alexandre, o Grande, em 334 a.C., que apesar de subjugar o Império Aquemênida, tínha profundo fascínio pela cultura persa, preservando o estilo de governar dos aquemênidas.Chegou a ter como esposa, a persa Roxana.
Alejandro Magno y Roxana. por Pietro Rotari

Com a morte precoce de Alexandre, o império foi dividido em dinastias. Seleuco, de ascendência grega, assumiu o poder na região. Seus sucessores formaram a Dinastia Selêucida, que aos poucos foram perdendo o poder para os partos, uma província rebelada.

Nativos das estepes a leste do mar Cáspio, formaram o Império Parto (247 a.C) que dominou a região. Estabeleceram laços comerciais com a China e, como exímios cavaleiros, eram temíveis por sua habilidade com arco e flecha. Enfrentaram um rival a altura em diversas batalhas, o Império Romano, com alternância de vitórias e derrotas.

Em 224 d.C, um governador parto se aproveitando do desgaste do império causado pelas diversas guerras com os romanos e pelos desentendimentos internos, anexou áreas vizinhas e proclamou independência, originando o Império Sassânida.

Último Império Persa pré-islâmico, considerado a era de ouro dos persas. A arte e a arquitetura tiveram grande impulso.  O comércio prosperou e a região era ponto de passagem da lendária Rota da Seda,por onde circulavam produtos, pessoas e idéias entre Ocidente e Oriente.
Os sassânidas falavam um idioma considerado ancestral do farsi moderno, alçaram o zoroastrismo a condição de religião do Estado e batizaram a região com o nome de Irã, consolidando, definitivamente, a identidade desse povo.

Com o declínio de Roma, a disputa por territórios e poder ficou entre o Império Sassânida e o Bizantino. Foram séculos de enfrentamento, mas a maior ameaça veio do sul com os árabes. Em 641, sob a bandeira do Islã, a Pérsia era conquistada.



Imagens: wikimedia commons

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