Pular para o conteúdo principal

Do México a Guatemala pelo Rio Usumacinta


Certo é que a maioria das pessoas não tem ideia de onde fica essa travessia. No entanto é provável que esse Rio tenha servido de caminho para os Maias em seus deslocamentos. Para mim, foi uma parte da desafiadora rota terrestre entre o México e a Guatemala. Estava em viagem pelo sul mexicano e América Central com o objetivo de conhecer o patrimônio histórico e artístico deixado pelos Maias, uma das mais avançadas civilizações pré-colombianas.
A última cidade mexicana a ser visitada seria Palenque e como ela está relativamente próxima à fronteira com a Guatemala, escolhi uma rota terrestre que me permitisse chegar à região de Petén, onde se localiza Tikal a maior cidade Maya da Guatemala.

Durante o planejamento, excetuando a referência sobre esse percurso realizado pelo autor do livro "América Central - Nas Asas do Quetzal" e a informação do livro "México" (Lonely Planet) sobre agências que realizam esse trajeto, nada mais encontrei que me pudesse garantir a possibilidade dessa viagem. Mesmo assim embarquei no Brasil com o propósito de que chegaria na Guatemala atravessando a fronteira com México, cruzando o Rio Usumacinta.


Ao contrário do que temia, não foi difícil encontrar agências em Palenque que fazem esse trajeto. E conforme combinado, às 6 horas da manhã, sob uma chuva fina e um céu ainda escuro, a confortável van me apanha no hotel, de onde seguiria rumo à fronteira em um remoto ponto na Selva Lacandón.

Foram 3 horas de viagem, percorrendo os 152 km da Carretera Fronteriza, uma rodovia pavimentada paralela à divisa entre o México e a Guatemala. No trajeto fizemos uma parada para o desayuno em um pequeno restaurante à beira da estrada e passamos por algumas comunidades, cujo aspecto reflete o desfavorecimento socioeconômico daquela região mexicana.



Poucos minutos antes de chegarmos ao embarcadouro paramos no serviço de imigração para os trâmites legais em Frontera Corozal, onde tivemos o carimbo de saída do México no passaporte e entregamos o selo de entrada no país.

Em seguida pagamos a taxa de entrada na Reserva-Floresta Lacandón.  Deixamos a van e o simpático motorista para trás. No pequeno embarcadouro nos esperava o estreito e comprido barco a motor, curiosamente coberto por um toldo.



Bagagens e todos embarcados, rapidamente atravessamos o Usumacinta. Itens de segurança? Se por lá isso existia não nos foi apresentado. Mas do outro lado chegamos sã e salvos.



Menos de 10 minutos após já estávamos na margem guatemalteca do Rio, em Bethel.


Mas a viagem não acaba aí. teríamos quatro horas de estrada em terra e pedregulho, em um micro-ônibus com prazo de validade já vencido e mais uma hora e meia em asfalto até chegarmos em Santa Helena/Flores, onde todos iriam pernoitar, menos eu, que continuaria até o Hotel Jungle Lodge Tikal, localizado no Parque Nacional de Tikal.


Após a travessia do rio, ficamos cerca de 30 minutos aguardando a chegada do ônibus que nos levaria até Flores. Aproveitei para fazer cambio, adquirindo quetzales e me desfazendo dos pesos mexicanos. Quando  o ônibus chegou me deparei com uma cena inusitada: o dito cujo não tinha bagageiro e o motorista começa a colocar mochilas, malas e maletas através da última janela, amontoando-as nos últimos bancos.

Todos acomodados, seguimos no lento, velho e desconfortável ônibus pela precária estrada da Guatemala.



Alguns quilômetros após, paramos no serviço de imigração para oficializarmos nossa presença no país. O trâmite foi rápido. Entrei muda e saí calada, mas deixei lá 40 quetzales (5,0 euros) para ter o carimbo de entrada no passaporte.


A viagem continuou, passamos por pequenos e pobres vilarejos, pastos e áreas de baixa vegetação com grupos de colinas ao fundo.A certa altura paramos em um estabelecimento comercial para lanches e outras necessidades. Aproximávamos dos últimos momentos de sacolejo no velho ônibus, pois a última hora e meia seria em rodovia asfaltada.




Finalmente após quase 11 horas de viagem, chegamos em Santa Helena/Flores. Dali, em um transfer privado, viajei cerca de uma hora até o Parque Nacional de Tikal, onde ficaria hospedada.


Onde|
Há várias agências em Palenque que vendem o percurso até Flores.
Quem tem espírito aventureiro pode fazer todo o trajeto por conta própria, utilizando coletivos que partem de Palenque até Frontera Corozal e dali, negociar a travessia com os barqueiros. Em Bethel, do outro lado do Rio Usumacinta, já na Guatemala, comprar a passagem do ônibus que vai até Flores. Para isso recomendo iniciar o trajeto muito cedo, ainda em Palenque, no México.

Quanto|
  • Palenque(México) a Flores(Guatemala)=> 350,00 pesos mexicanos. Utilizamos Van-barco-ônibus.
  • Flores a Tikal=> 480,00 quetzales.  Transfer (van) privado. Contratei ao chegar em Santa Helena/Flores
Aqui, uma recomendação: Não faça como eu fiz!  confiar em pagar antecipadamente pelo transfer de volta de Tikal para Flores. Eles recebem o dinheiro mas na hora marcada não aparecem para te buscar no Lodge.  Fiquei sem ter como retornar, pois um coletivo só sairia de lá depois de completar a lotação, o que talvez não conseguisse pois já era final de tarde. A solução foi pedir carona com um pessoal da polícia turística. Foram muito solícitos e me deixaram no hotel em Flores, porém prometeram descobrir e tomar providências contra o transfer que tinha me enganado, mas só ficou na palavra mesmo.

O melhor é, se for ficar hospedado no  Jungle Lodge Tikal, verificar a possibilidade de transfer com eles para ida e volta entre Flores e Tikal.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Arte Cusquenha

Ao conquistar Cusco em 1534, os espanhóis não só iniciam mudanças profundas na história política do Império Inca, como também transformações na história da arte americana. O encontro de duas culturas fez surgir uma nova expressão artística, tendo a pintura colonial desenvolvida na cidade peruana de Cusco como resultado da confluência da tradição barroca trazida pelos colonizadores espanhóis com a arte dos indígenas americanos. Com o objetivo de catequizar os incas, muitos missionários partem para a colônia para converter a alma pagã à religião católica. Para isso utilizaram a pintura como arte eclesiástica. Assim escolas foram criadas, dando origem ao primeiro centro artístico pictórico das Américas. A grande maioria das obras da Escola de Cusco se refere a temas sacros, onde a imagem aliada à palavra seria o único meio de difundir o catolicismo. Assim estão presentes nas obras a glorificação de Jesus, a Virgem Maria e santos, o Juízo Final com as glórias do Paraís

Os Megalitos de Tiwanaku

Principal sítio histórico da Bolívia, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade em 2000 pela Unesco. As ruínas são de uma das mais importantes civilizações pre-colombianas que se desenvolveu no Altiplano Boliviano. Apesar de ainda ser controverso, acredita-se que esse povo tenha surgido de uma aldeia que vivia da agricultura baseada em plataformas de cultivo  por volta de 1200 a.C. Teve o seu apogeu entre o século  5 e 10 da nossa era, quando desenvolveu a metalurgia (uso do cobre na produção de ferramentas) e o comércio. Não se sabe o motivo, mas teria desaparecido definitivamente no século 12. Especula-se que a ocorrência de alterações climáticas tenham contribuído para a sua extinção. Mesmo assim os demais povos do Altiplano, inclusive os incas, tiveram forte influência dessa cultura. Durante séculos o poderoso império que dominou o altiplano construiu um sofisticado complexo arquitetônico, parte dele representado pelas ruínas hoje expostas. O aspecto monum

Uxmal, obra-prima da Arquitetura Maia

Pouco se sabe da origem dessa cidade-estado maia, no entanto se conhece como a época do seu apogeu a última fase do Período Clássico (entre 800 e 1000 d.C.), quando as poderosas cidades-estados maias, Palenque, Copán e Tikal, estavam sendo gradativamente abandonadas. Poderosa, Estendeu seu domínio até as cidades vizinhas de Kabah, Labná, Xlapac e Sayil, juntas se destacaram no emprego de uma arquitetura refinada e elegante, conhecida como "estilo puuc". Acredita-se que Uxmal foi o centro que alcançou o maior desenvolvimento político e econômico da área puuc. Ao contrário de outras regiões da Península de Yucatán, não possuía cenotes e havia escassez de água, podendo ser esse o motivo de tantas esculturas dos deus da chuva, Chac,  nas fachadas de suas construções, atestando a importância desse culto. De todos os sítios maias, esse foi o que achei mais fascinante. É notável a mistura estilística, onde estão presentes elementos maias e toltecas (expressa