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Viajando pela Rota 40


Símbolo nacional argentino, Com 5.200 km de extensão é uma das maiores rodovias do mundo. Com altitudes que variam do nível do mar a mais de 5 mil metros em plena Cordilheira dos Andes, atravessa 11 províncias argentinas de norte a sul. A estrada é um verdadeiro atrativo, escreveu muita história quando era toda em rípio (cascalho). 


As paisagens inóspitas alternadas com os cumes andinos, estepes, lagoas e a fauna variada, foi cenário para a lendária viagem de Che Guevara e Alberto Granado nos anos 50 do século 20.


...Percorremos muitos quilômetros em rípio, apesar de muitos trechos já estarem pavimentados. Raramente cruzávamos com outro veículo. Mas tamanho isolamento sempre instigou muitos aventureiros que a percorrem de moto e até mesmo em bike, com o objetivo de conquistar um dos mais selvagens cenários da América do Sul.


São diferentes microclimas ao longo de sua extensão. Boa parte dela paralela à Cordilheira dos Andes. Trechos que, provavelmente, correspondem às antigas rotas de viagens dos primeiros habitantes da América do Sul.


Foram dois  dias de viagem no trecho que liga El Chaltén até Bariloche. No primeiro dia pernoitamos em Perito Moreno.
1º Dia
... No grande salão de refeições do Hostel Rancho Grande tomei o café da manhã, após confirmar o horário de saída. Embarcaríamos às 9 horas de um dia ensolarado, embora frio como é de costume na pequenina cidade de El Chaltén.
... Após alguns quilômetros rodados o ônibus da Chaltén Travel parou na estrada para aguardar outros passageiros que vinham de El Calafate. Dali, seguiríamos viagem durante todo o dia até a cidade de Perito Moreno.


... E assim percorremos longos trechos de rípio da Rota 40 no primeiro dia. Em alguns momentos tinha a impressão de que não ultrapassávamos os 40 km/h. Tivemos uma parada técnica pela manhã em um restaurante a beira da estrada “Estancia La Siberia”. Não estava com fome e só comprei uma coke.


... Foi aí que vi pela primeira vez um tipo de “hotel ônibus” - Rotel Tours - e lembrei-me de uma reportagem sobre essa modalidade exótica de se fazer turismo. Nada mal!


... No meio da tarde, no meio do nada, outra parada para as necessidades mais básicas. Fila indiana para os dois únicos banheiros, que apesar de muito simples, estavam surpreendentemente limpos em pleno “boteco” de beira de estrada. Cheguei a procurar algo comestível e só encontrei um pacote de biscoito salgado. E, de fato, nem cheguei a comê-los, pois não achei o prazo de validade e tinha um aspecto esquisito.


... Já acostumados com a poeira dentro do ônibus e dez horas após El Chaltén, chegávamos à pequena cidade de Perito Moreno, onde iríamos pernoitar. Aproveitei e me abasteci no supermercado com o kit “lanche básico”. Era domingo 17 de Janeiro de 2009 e vi pela TV Argentina que estava sendo encerrado o famoso Rally Dakar, que por motivo de segurança, tinha deixado sua rota original: Paris-Dakar, para ser realizado, pela primeira vez, na América do Sul, mais precisamente, na Argentina e no Chile.


Nesta edição do Rally os competidores saíram de Buenos Aires em direção ao sul da Argentina, onde alguns trechos da Rota 40 fizeram parte da prova, até regiões da Patagônia. De lá foram em direção ao norte do Chile, passando pelo Deserto do Atacama, de onde retornaram para Buenos Aires.

... Foi uma noite tranquila e ainda estava terminando o café da manhã, quando o ônibus chegou para pegar o pequeno grupo que tinha ficado naquele Hostel. E só foi dentro dele que percebi: os três estudantes de medicina brasileiros (éramos quatro brasileiros num ônibus “multinacional”) ainda não estavam acordados. É de se imaginar a “cara” da guia por aquele pequeno descuido dos brazucas! Mas até que foram rápidos e não houve nada que não pudesse ser contornado nas longas 12 horas que teríamos a nossa frente até chegarmos a Bariloche.


... Logo após deixarmos a pequena Perito Moreno, voltamos a percorrer longos trechos de estrada de rípio (cascalho). A certa altura, encontramos com alguns ciclistas que estavam realizando a proeza de percorrer aquela estrada. Porém, contavam com uma boa estrutura de apoio, que seguia atrás em uma van.


...Fizemos rápidas paradas técnicas em dois lugarejos. Da janela via passar a vegetação rala, famílias de lebres atravessando a estrada de cascalho e muito raramente, outros carros.


...No segundo dia de viagem pela Rota 40  ainda tivemos estrada de rípio por vários quilômetros. No entanto a paisagem começa a mudar e junto com ela surge a parte mais movimentada da Rota, agora em asfalto.


... O ônibus era outro, bem mais confortável. Pelo menos tinha ar condicionado e nos livramos de ter que abrir a janela para entrar ar e termos como brinde a inalação da fina areia do deserto da Patagônia.


À tarde, com a Rota 40 já em asfalto, chegamos a Esquel, término de viagem para alguns e depois El Bolson, onde outros ficaram. Os demais seguiram para Bariloche, final da nossa rota.



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