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Canion del Colca


O Cânion del Colca é o segundo mais profundo do mundo, com 3.400 metros, contando do pico nevado mais alto até o leito do Rio Colca. O primeiro é seu vizinho Cotahuasi com 3.501 metros.

Para chegar lá, de Arequipa, se percorre cerca de 150 km em uma estrada extremamente sinuosa, entre montanhas, mas com um belo visual.

Se eu tinha achado a Rodovia do Pacífico e a Pan-Americana entre Tacna e Arequipa perigosas era porque não imaginava que pudesse existir uma estrada pior. E existe, ali mesmo no Peru, a estrada que liga Arequipa a Chivay!


O perigo não está na qualidade da rodovia, mas no seu traçado, que de tão sinuoso fazia-nos dobrar à esquerda, quando mal tínhamos acabado de completar uma curva à direita. O acostamento, quase não existe. Porém, o que se multiplica a cada curva é o número de cruzes e pequenos monumentos enfeitados com flores. Em uma ocasião cheguei a contar nove delas agrupadas na beira da estrada, fazendo-nos lembrar, constantemente, que nem todos saem ilesos daquele percurso.


 Montanhas, curvas e abismos em abundância...


Em abundância também são as belas paisagens...


A estrada atravessa uma Reserva Nacional, onde diversas vicunhas pastavam livremente e corriam a procura de veios de água, enquanto fotografávamos. Estes animais são protegidos por lei no Peru e há uma alta multa para quem abata algum.



Outro representante da fauna local é a vizcacha (pequeno roedor pertencente a mesma família da chinchila),que corre para se camuflar em rochas. Mas essa não escapou da minha lente.


É típico da paisagem a presença de   grupos de llamas conduzidos, geralmente, por mulheres com suas típicas vestes andinas.


Como em várias outras rodovias peruanas que levam a locais turísticos, ali também há um mirador e os frequentes vendedores de artesanato. Mas a beleza do entorno é quem atrai toda a atenção: os vários montes e vulcões que fazem parte da paisagem e as inúmeras apachetas (montinhos de pedras sobrepostas que simbolizam oferendas aos deuses).



São os pontos altos da estrada: os mirantes de vulcões e montanhas entre eles o nevado Mismi, pico coberto de neve que, segundo a National Geographic, seria o local da nascente do Rio Amazonas.


Uma parada técnica em uma pequena lanchonete à beira da estrada é uma boa oportunidade para um breve descanso e tomar chás de muña ou de coca, indicados para diminuir os efeitos da altitude, que àquela altura, vão aumentando a cada quilômetro que se percorre, chegando a atingir 5.000, para depois descer até a parte mais alta do vale, 3.635 msnm, onde se encontra Chivay.


Até chegar a esta cidade, o percurso atravessa pequenas vilas e povoados. Um deles é Maca, onde se pode visitar a igreja de Santa Ana de Miraflores, um dos melhores exemplos de arte mestiça, com seu interior deslumbrante de altares revestidos com lâminas de ouro.


A 150 km ao norte de Arequipa, Chivay é o portão de entrada para o Cânion del Colca, considerado o segundo cânion mais profundo do mundo, com 3.400 m de profundidade e 100 km de extensão.


Essa região era habitada pelos povos Cabana e Collagua há quase 2 mil anos, os quais construíram um sistema de terraços que captava a água da neve derretida dos vulcões nos arredores com fins de irrigação e controle de erosão. As comunidades ainda hoje usam os terraços para cultivo.


As mulheres se vestiam com seus trajes típicos bordados, onde o chapéu era um dos elementos que marcava a diferença entre as da etnia Cabana e a da Collagua.


Apesar de toda a exuberância da paisagem do caminho para Chivay, quem vai para esta pequena cidade peruana tem um objetivo: ver o sobrevoo matinal do condor, geralmente entre 9 e 11 horas, horário em que as correntes térmicas emergem das profundezas do vale. Portanto, o melhor é dormir em Chivay e cedo da manhã se dirigir à Cruz del Condor, o mirante a beira do Cânion de onde se pode apreciar toda a sua magnitude além da exibição da ave símbolo dos Andes.


De Chivay até o Mirante são 45 km por uma sinuosa  estradinha de terra, que passa por alguns povoados localizados ao longo do cânion, cujas comunidades vivem do pastoreio e da agricultura, mas que, recentemente, têm se beneficiado com o crescente turismo na região.



Terra árida onde pouco chove, reduto de condores, mas também de segredos milenares como os túmulos encravados nas montanhas.


Finalmente, o reduto dos condores andinos!


Todas as manhãs muita gente se aglomera na plataforma com uma cruz de pedra à beira do cânion, aguardando o momento em que algum condor inicie seu voo matinal em busca de alimento.


De repente, das entrâncias dos paredões do cânion, surge a soberana ave andina. Por estarmos em período de acasalamento, aquela não era a época mais adequada para se ver condor.


Mas os poucos que apareceram, satisfez o desejo de ver aquela soberba ave, com quase 3 metros de envergadura, aproveitando as correntes de ar quente para planar sobre nossas cabeças.




Como ir|
Partindo de Arequipa você percorre a sinuosa e alta estrada (Alguns pontos atingem 5.000 msnm) até a cidade de Chivay. Há a possibilidade de se ir por conta própria, mas recomendo contratar uma agência e escolher o tour de dois dias.


Como fui|
Para conhecer o Cânion contratei os serviços da agência Giardino, assim que cheguei em Arequipa. Optando pelo passeio de dois dias. Mas há quem faça em um dia apenas ou passe mais dias por lá.

Na entrada da cidade é necessário adquirir o Boleto Turístico, para ter acesso ao Vale do Rio Colca.


Onde fiquei|
Optei por dormir uma noite em Chivay.  O Hotel Pozo del Cielo foi uma grata surpresa, pois tinha lido relatos de hotéis muito desconfortáveis no Vale.


Quanto|
O valor da diária já estava incluída no preço do passeio (U$ 80 - 2011).



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