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O Peru após o Império Inca

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A invasão espanhola foi um dos primeiros e mais sangrentos conflitos entre o Velho e Novo Mundo. Passaram-se 300 anos até que não só o Peru, mas todas as colônias sul americanas conseguissem, por fim, libertarem-se desse julgo colonialista

Conquista essa que não resultou em períodos fáceis. Guerras civis, guerras externas, crises econômicas, corrupção, guerrilha e golpes de estado levaram o jovem pais ao caos. Porém nas últimas décadas, governos civis, desenvolvimento econômico, capitaneado pela indústria, e os primeiros conceitos de democracia e igualdade têm levado o país a uma relativa estabilidade, apesar de ainda não existir uma verdadeira integração social.

Conquista e Exploração
Pizarro ao aportar no Peru encontra um império inca já em decadência e disso se aproveita para tirar partido. No entanto, a rivalidade entre os dois conquistadores (Pizarro e Almagro) resulta no assassinato de ambos. Para manter a estabilidade do regime colonial foi criado o Vice-reino do Peru, que no início do século 18 foi dividido em Vice-reino da Nova Granada e Vice-reino do Rio da Prata.

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A conquista e a colonização espanhola movidas pela cobiça pelo ouro e pelo fervor religioso, dividiram a sociedade entre os colonizadores vitoriosos e os nativos vencidos. A língua, a religião e as diferenças econômicas e sociais são impostas.

Foi estabelecido o sistema feudal da encomienda, com abusos e desigualdades que levaram a disputas internas e rivalidades entre nativos e colonizadores (revoltas indígenas), mas também entre a nova burguesia de origem européia e mestiça contra a coroa espanhola.

Enquanto o Peru se tornava a principal fonte de riqueza espanhola em toda a América do Sul, sentimentos nativistas inspirados pelos ideais iluministas, pela Revolução Francesa e pela independência dos EUA repercutiam nos meios intelectuais em todo o continente.

Independência
...Deste momento em diante, o Peru é livre e independente, pela vontade geral dos povos e pela Justiça da sua causa que Deus defende. Vida longa à pátria! Vida longa à liberdade! Vida longa à independência!"

O desentendimento gradativo entre a elite local (crioulla) e o império espanhol deflagrou os movimentos de libertação da América. Personagens famosos, conhecidos como "Libertadores da América" enfrentaram batalhas para proclamar a independência: o argentino San Martin (libertou o Chile, Peru e a Argentina); o venezuelano Simon Bolivar (libertador da Venezuela Colômbia, Bolívia e Equador).

 Em 1824, com a vitória na Batalha de Ayacucho, sob o comando do general Sucre, o Peru adquire definitivamente sua independência.

Após a independência o país se envolveu em disputas territoriais com seus vizinhos. A Guerra do Pacífico (1879-1883), deflagrada por disputas pelo controle de campos de nitrato, ingrediente para explosivos e fertilizantes (salitre e guano, em territórios peruano e boliviano), no norte do deserto do Atacama. 

Travada entre o Chile e as forças aliadas do Peru e da Bolívia, trouxe perdas e uma rivalidade perpétua entre as nações envolvidas. O Chile, grande vitorioso, além do controle das jazidas, ganhou os territórios de Arica e Tacna (devolvida ao Peru em 1929). A Bolívia, grande derrotada, perdeu sua única saída para o mar.

Democracia, Ditadores e Guerrilhas
Após a Guerra do Pacífico algumas reformas econômicas e sociais foram implantadas para recuperar os prejuízos. No entanto o país oscilou entre democracia e ditadura, o que resultou em graves crises econômicas, corrupção, inflação, aumento do narcotráfico e ameaça de movimentos guerrilheiros.

As duas últimas décadas do século 20 foram marcadas pelo fim da ditadura militar, mas os grupos Sendero Luminoso e o Tupac Amaru levaram a uma sanguinária guerra interna entre 1980  e 2000. Mas de 70 mil peruanos morreram nesse período, tanto pelas mãos desses grupos, quanto por forças militares.

Os dez anos do governo de Albeto Fujimori (1990-2000) são marcados por autoritarismo, corrupção e violência (verdadeiro "terrorismo de estado" com o governo no combate aos guerrilheiros). Porém o presidente termina se exilando no Japão, mas é extraditado, julgado e condenado pelos seus crimes.

A caminho da estabilidade
Passados esses tempos turbulentos, o século 21 chega trazendo consolidação democrática, recuperação econômica, controle da inflação e o permanente combate à corrupção. Porém, enquanto permanecerem as desigualdades sociais, a despeito dos avanços, este como qualquer outro país em desenvolvimento, não alcançará uma verdadeira estabilidade.





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